Available to Promisse: como projetar as datas de atendimento
Definido quantidades e datas de promessa para os pedidos dos clientes
Estabelecer datas de atendimento aos clientes que sejam exequíveis sob ponto de vista do fornecedor e satisfatórias sob ponto de vista do comprador é algo complexo, pois exige equilíbrio entre o nível de atendimento ao cliente com o uso eficiente de recursos de produção e custos decorrentes dos estoques. O cumprimento dos prazos prometidos constitui-se num dos pilares para gerar confiança no fornecedor e manter o cliente satisfeito, sendo que gestão da data disponível para o atendimento de um pedido ou cotação é denominada Available to Promisse (ATP). Este artigo busca esclarecer o conceito e aplicação do Available to Promisse, sua aplicação em Sistemas Puxados e Empurrados e apresentar a lógica de cálculos em sistemas de planejamento e atendimento.
Definição de Data de Atendimento como Fator de Competitividade
Dentre os pontos mais importantes para garantir a satisfação dos clientes atualmente, está o atendimento dos prazos de entrega acordados e obviamente a capacidade de oferecer prazos de atendimento competitivos. O primeiro aspecto remete ao Objetivo de Desempenho Confiabilidade (ser capaz de cumprir o quê foi prometido), enquanto o segundo é inerente à Velocidade (realizar processos no menor tempo em relação à grande parte dos concorrentes). Destacamos, que a contribuição específica da gestão da definição de datas de atendimento, está associada a qualidade das datas informadas e a eliminação de margens de segurança excessivas, que acabam por dilatar os prazos informados ao mercado.
Definir datas de atendimento confiáveis, não é uma tarefa trivial, pois envolve a conciliação de posições antagônicas dentro da própria empresa. De uma lado, a defesa por altos níveis de estoques de produtos e insumos, permitindo a melhoria do nível de atendimento dos pedidos com maior nível de estoque a pronta entrega; de outro lado, observamos uma posição financeiramente conservadora que privilegia o Caixa e maior uso dos ativos, o que reduz a ociosidade produtiva e logística, bem com força níveis de estoque menores.
A gestão da ATP (Available to Promisse, ou Disponível para Promessa, DPP) - objetiva definir datas de atendimento mais confiáveis - permitindo com que as empresas mantenham a quantidade mínima de um determinado produto dentro de seus armazéns para que usem seu espaço de estocagem de forma eficiente, da mesma forma, os recursos de produção são direcionados para produção de itens voltados ao atendimento de pedidos em carteira ou com maior probabilidade de consumo no curto é médio prazos. Desta forma, fica facilitado o planejamento dos estoques e a distribuição dos materiais para os clientes; tendo como consequência a redução dos custos e o aumento das vendas.
A definição da ATP é feita através de cálculos, onde são empregados dados diversos e realizada análise probabilística para que sejam disponibilizados os produtos pedidos o mais próximo possível da data combinada com cada cliente, objetivando que estes não tenham seus pedidos colocados em status de "backorder" (pedido atrasado). Para que seja viável a análise e projeção de prazos de atendimento considerando o número de variáveis envolvidas á automação dos cálculos deve ser viabilizada por algoritmos com interfaces para equipes que atuam na captação de pedidos, planejamento de produção e de gestão de atendimento. Para tanto a ATP funciona um subsistema incorporado a outros sistemas como ERP (Enterprise Resource Planning, Planejamento de Recursos Corporativos), APS (Advanced Planning System, Sistema de Planejamento Avançado), WMS (Warehouse Management System, Sistema de Gerenciamento de Armazém) (Pibernik, 2005).
Tradicionalmente, a funcionalidade dos sistemas ATP limita-se a determinar a disponibilidade de bens acabados em determinados pontos de tempo no futuro. Esta visão tradicional da ATP é apoiada pela definição APICS (APICS, 1987): "A ATP é a parte não comprometida do inventário de uma empresa e a produção planejada em um local designado". O termo CTP (Capable-To-Promise, Capaz para Promessa, CPP) adiciona alguma funcionalidade à verificação de disponibilidade se o resultado deste último é negativo e a produção é necessária (Zschorn, 2006). Nesse sentido, a ATP pode estar ligada aos produtos existentes, enquanto a CTP está ligada à capacidade de produção. No entanto, sob o ponto de vista de funcionalidade de sistema de informação o CTP é comumente incluído nas funcionalidades da ATP.
A diferença entre Available to Promisse e Capable to Promisse
Mesmo que em alguns sistemas de informação a distinção entre ATP e CTP não exista ou não esteja clara, devemos compreender que conceitualmente estamos tratando de conceitos diferentes. Devemos partir do princípio que a ATP trata apenas da disponibilidade de materiais e assume recursos de capacidade infinita, enquanto a CTP considera a disponibilidade de materiais e capacidade; trazendo com isto uma imagem mais realista quanto a real possibilidade da demanda dentro de uma determinada cerca de tempo. Na sequência serão mais detalhados estes dois conceitos.
Available to Promisse (ATP)
O termo Avaiable-to-Promisse (ATP), refere-se a limites que devem ser colocados em compromissos de entrega, ou seja, consistem em datas de entrega viáveis e quantidades que podem ser fornecidas. Segundo de Cox & Blackstone (1998), Available to Promise (ATP) refere-se à quantidade em estoque ou planejada a produzir que ainda não está comprometida com pedidos de clientes, sendo o cálculo destas quantidades feito no momento presente da cotação e em momentos futuros nos recebimentos planejados do MPS.
Cabe mencionar que existem vários métodos e níveis de determinação da quantidade e data de entrega, dependendo das circunstâncias e das necessidades do modelo de negócio. Nos parágrafos abaixo serão abordadas as aplicações de Availabre to Promisse com abordagem em tempo real e outra com abordagem acumulativa.
Considerando um contexto mais dinâmico, tem-se a Real Time Available to Promise (Disponível para Promessa em Tempo Real), no qual, a determinação de alocação de materiais e recursos no tempo leva em conta a demanda real e a demanda prevista atualizada. Sendo assim, a ATP em tempo real tem por objetivo fornecer um cronograma de produção em tempo real, mesmo para uma ordem (demanda especulativa ou uma consulta) usando o software SCM e de acordo com a capacidade de operação e as restrições de estoque de materiais da cadeia de suprimentos.
Outra variação da ATP é a Cumulative Available to Promisse (Disponível para Promessa Cumulativo), cujo cálculo é baseado no número disponível para promessa (ATP) do MPS - Master Production Schedule (ou em português Plano Mestre de Produção ou Planejamento Mestre da Produção). Este plano informa quais itens deverão ser produzidos e quando cada um será produzido em um determinado período. Este planejamento pode cobrir algumas de semanas, até horizontes de seis meses a um ano dependendo do nível de planejamento da indústria. Trata-se de uma análise mais demorada e que envolve um lote de pedidos, normalmente realizada com periodicidade pré-definida pela empresa.
No caso da ATP cumulativa são adotados dois métodos de cálculo da ATP cumulativa (chamaremos desta forma para manter a sigla conhecida): com e sem o cálculo futuro. A ATP cumulativa com o cálculo futuro é igual ao ATP do período anterior adicionando a quantidade do MPS do período, menos os pedidos pendentes do período, deduzidas a soma das diferenças entre os pedidos pendentes e os MPSs de todos os períodos futuros até, mas não incluído, o período onde o ponto de produção ultrapassar os pedidos pendentes. O procedimento cumulativo sem o futuro é igual ao ATP do período anterior, mais o MPS, menos os pedidos pendentes do período considerado.
Capable to Promisse (ATP)
O conceito de Capacidade de Promessa é mais rigoroso, que o de Disponibilidade para Promessa. O Ao desenvolver as análises do CTP a empresa busca certificar-se de que ela tem tanto o inventário, quanto a capacidade para cumprir um pedido, o que pode significar garantir que todos os locais de distribuição e fabricação tenham sido verificados para os materiais apropriados. Segundo a definição do Gartner (2020) sobre Capable-to-promise (CTP) temos:
"os sistemas permitem que as empresas se comprometam com pedidos de clientes com base na capacidade de produção/recurso (disponível ou planejado) e inventário (disponível ou planejado). As soluções da CTP consideram disponibilidade de recursos (equipamentos, pessoas e materiais), capacidades, restrições, trabalho em andamento ou trabalho planejado, múltiplas etapas no processo de produção, múltiplos nódulos em uma rede de supply chain (incluindo, em alguns casos de uso sofisticados, redes de fornecedores) e várias regras para calcular promessas precisas. Sistemas mais recentes também consideram restrições não relacionadas à produção, como o transporte, que permitem que fatores de entrega (como opções de modo de expedição) sejam levados em conta em datas de promessa."
O Dicionário APICS, em sua 15ª edição, define a capacidade de promessa (CTP) da seguinte forma:
"o processo de cometer ordens contra a capacidade disponível, bem como o inventário. Esse processo pode envolver vários locais de fabricação ou distribuição. Usado para determinar quando um pedido de cliente novo ou não programado pode ser entregue. Emprega um modelo de agendamento finito do sistema de fabricação para determinar quando um item pode ser entregue. Inclui quaisquer restrições que possam restringir a produção, como disponibilidade de recursos, prazos de chumbo para matérias-primas ou peças compradas, e requisitos para componentes de nível inferior ou subconjuntos. A data de entrega resultante leva em consideração a capacidade de produção, o ambiente de fabricação atual e os compromissos futuros de pedidos. O objetivo é reduzir o tempo gasto pelos planejadores de produção."
A complexidade do CTP fica evidente com a constatação que a determinação da entrega utiliza modelos de agendamento finito que consideram quaisquer restrições do sistema de fabricação que possam dificultar a produção. Neste contexto, são considerados também outros compromissos que a empresa assumiu. Por tras de tanto rigor, espera-se maior eficiência no trabalho dos planejadores de produção e da equipe de Gestão de Atendimento (GATE), ao contribuir para que se gaste menos tempo ajustando planos e reagendando pedidos cujas datas de promessa de entrega foram feitas e não podem ser cumpridas.
Sistema Puxado ou Empurrado e a definição da Quantidade Disponível para Promessa
Quando tratamos de sistema de produção e gestão de estoques é comum fazer uma distinção entre os sistemas que operam "puxados pela demanda" e aqueles que operam "empurrando os estoques" em direção ao cliente, ou como é comum denominar: Sistema Puxado (Pull System) e Sistema Empurrado (Push System). Considerando estes dois sistemas clássicos, vamos avaliar se existe alguma diferença relevante na definição das datas disponíveis para promessa.
Para Babulak e Wang (2008) existem dois níveis de ATP: um para gerar a perspectiva de disponibilidade (push-side do gerenciamento de disponibilidade) e outro para agendamento de pedidos de clientes (pull-side do gerenciamento de disponibilidade), enquanto Lee (2006) afirma que: "um papel fundamental para um processo de gerenciamento de disponibilidade eficaz é coordenar e equilibrar o lado de pressão e o lado de atração da ATP". Trata-se de ponto com grande intersecção com os conceitos de funcionamento dos sistemas de produção e gestão de estoques e a ATP para sistemas Puxado e Empurrado são distintas ao tratar os cálculos das datas em relação à previsões e pedidos firmes (Ball et al., 2004).
Os Sistemas Push-ATP fazem alocação prévia de recursos com base na previsão de demanda, fator semelhante aos aos sistemas tradicionais de planejamento de produção e controle de estoque. Sistemas Push-ATP fornecem uma data de promessa muito confiável por trabalharem com a produção antecipada de estoques para atender a previsão de vendas, no entanto, no entanto, em caso de previsões com índices de erros significativos fica prejudicada a disponibilização dos estoques (FRAMINAN & LEISTEN, 2010).
Os sistemas Pull-ATP executam a alocação dinâmica de recursos em resposta direta às ordens colocadas em tempo real. O sistema Pull-ATP usará um algoritmo com foco mais estreito, pois considera uma análise momentânea e por vezes focada no atendimento individualizado de pedido de vendas. Essa limitação pode ser atenuada com a definição de data disponível para promessa calculado em lote, mas à medida que o intervalo considerado no lote torna-se maior, o atendimento ao cliente tende a piorar (FRAMINAN & LEISTEN, 2010.
É interessante mencionar que assim como uma mesma indústria pode ter o Sistema Empurrado e o Sistema Puxado convivendo em diferentes partes é plenamente possível que o Pull ATP e o Push ATP sejam empregados no planejamento da mesma empresa. Por exemplo, em Zhao et al. (2005) é descrito um sistema ATP implementado que opera principalmente sob uma estratégia Puxada, mas, a fim de antecipar demandas futuras de clientes de alta prioridade, alguns "pedidos fictícios" são criados, gerando reservas no sistema.
Finalmente, pode-se notar que, do ponto de vista da modelagem, não há diferença entre ambos os tipos. A ATP baseada no Sistema de Estoque Empurrado (Push System) prevê a demanda com base na inclusão de previsões. Esse cálculo leva em conta a demanda prevista para prever quanto precisa ser ordenado. Embora o modelo aplicado no Sistema Empurrado certifique-se de que qualquer aumento futuro da demanda contabilizado, ele corre um risco significativo para a maioria das empresas. Se a previsão de demanda ajustada para baixo, você terá um inventário mal preparado para atender à demanda do cliente.
A fórmula base para calcular quantidade disponível para promessa no Sistema Empurrado (Push ATP) pode incluir esses elementos:
Quantidade em mãos (On Hand): a quantidade de produto existente na empresa no momento do cálculo;
Fornecimento: pedidos planejados, ordens de compra, requisições de compra, etc;
Demanda= ordens de vendas + demanda prevista.
Push ATP = Estoque Disponível + Ordens de Compra - Demanda
O modelo ATP baseado no Sistema de Estoque Puxado (Pull ATP), por outro lado, baseia-se na demanda de oferta atual, não inclui previsões. O cálculo depende de uma série de fatores, como a quantidade de estoque disponível no momento, a quantidade vendida por dia e se existe ordem de compra para ser entregue ou não. De forma geral, as regras para calcular o estoque disponível para prometer são bastante simples, diferindo ligeiramente da Push ATP.
A fórmula base para calcular a quantidade disponível para promessa no Sistema Puxado (Pull ATP) pode incluir esses elementos:
Quantidade em mãos (On Hand): a quantidade de produto existente na empresa no momento do cálculo;
Fornecimento: pedidos planejados, ordens de compra, requisições de compra, etc;
Demanda* = ordens de vendas.
Pull ATP = Estoque Disponível + Ordens de Compra - Demanda*
Lógica de cálculo da quantidade ATP por data
Apresentado na seção anterior as fórmulas base para cálculo da quantidade disponível para promessa, o objetivo agora e conectar o que foi apresentado até o momento com o planejamento da produção e dos estoques ao longo dos períodos de planejamento. De maneira resumida, o cálculo da ATP se repetirá para cada período de planejamento e representa a parte não comprometida do estoque e da produção planejada de uma empresa mantida em um Plano Mestre de Produção (PMP, ou Master Production Schedule - MPS) para cobrir pedidos futuros dos clientes.
Para compreender o cálculo das quantidade ATP é necessário abordar o Plano Mestre de Produção em suas principais características. Pode-se compreender o PMP como um cronograma elaborado com base na demanda, que é apresentada sob forma de previsão de vendas ou pedidos em carteira dos clientes; ajustado com dados de estoque e estoque de segurança. O PMP é gerado a partir da desagregação do planejamento agregado de produção, ou seja, significa que o plano agregado de uma dada família de produtos é transformado em um PMP para cada um dos itens que compõe esta família e serve de base para a produção no médio prazo.
Do lado da demanda, ao longo do tempo observa-se a concretização das previsões em pedidos, sendo que, quanto mais próximos estes forem do previsto, melhor será o resultado operacional da empresa.
Considerando este cenário positivo a área Comercial pode fornecer cotações confiáveis de tempo de entrega; porém, se o processo de planejamento não for eficaz, manufatura, logística e vendas serão obrigados a conviver com uma desgastante rotina de emergências e reclamações do clientes.
Devido ao seu processo de elaboração que reúne informações comerciais, de recursos produtivos, de disponibilidade de pessoal e de estoques, o PMP fornece uma boa garantia de que a programação da produção gerada num passo seguinte, será exequível. Para isto, é importante que os processos de planejamento, produção e vendas estejam integrados e que o processo de vendas se apoie em informação acurada do quanto se pode vender, evitando alterações frequentes do plano mestre de produção. Ao gerenciar a colocação de pedidos futuros usando as quantidades ATP calculadas no planejamento auxiliam na estabilidade das operações, pois permite manter o PMP congelado. Esta coerência pode ser verificada com a utilização do ATP, que se constitui em uma ferramenta que integra o planejamento de produção com os processos de vendas (ZAGO; MESQUITA, 2010).
Analisando a figura 01, é possível compreender a relação que existe entre o nível de capacidade de atendimento registrado no Plano Mestre de Produção, a quantidade de pedida em carteira e a quantidade disponível para promessa (ATP). Observa-se que quanto mais próximo do tempo presente maior a quantidade de pedidos de vendas firmes e menor a disponibilidade de capacidade para oferecer para novos pedidos. Por outro lado, quanto mais avançamos para os períodos futuros, menos comprometida a capacidade está e mais a disponibilidade para novos pedidos.
Figura 01 - Relação entre PMP, Carteira de Pedidos e ATP
Fonte: EXCENT Consultoria
Cumpre esclarecer que o Plano Mestre de Produção não é sinônimo de capacidade de produção, mas passa por uma avaliação preliminar de capacidade e, a seguir, alimenta o processo de Planejamento das Necessidades de Materiais (Material Requirements Planning – MRP); que gera as ordens de produção e compras referentes às matérias primas, componentes, produtos intermediários e acabados para atender ao PMP.
Em seguida, veremos como calcular a quantidade disponível para promessa no cronograma mestre. Observe que o método aqui discutido é chamado de método discreto para cálculo da ATP, pois existem dois outros métodos (cumulativos com olhar para frente e cumulativos sem olhar para frente, mas esses métodos não são apresentados aqui).
Primeiramente vamos discorrer sobre a priorização dos pedidos de vendas na alocação dos estoques, abordando também os pedidos em backorder, ou seja, que precisam de reprogramação pela falta de estoque disponível.
Sabemos que as informações de níveis de estoques, entradas e saídas futuras em estoques são base para fornecer ao analista de vendas quantidades e datas possíveis para atendimento da demanda (ZAGO; MESQUITA, 2010). Num contexto organizacional, a gestão dos pedidos é feita com base em sistemas de informação, permitindo que a alocação das necessidades de entrega nas quantidades em estoques disponíveis ocorra de forma dinâmica, seguindo a ordem de inserção de tais necessidades. Por exemplo, a entrada de uma ordem de venda a partir do estoque compromete a quantidade necessária para atender aquela saída. Analisando a Tabela 01 é possível perceber que as quantidades ATPs acumuladas são dadas pela quantidade disponível anteriormente mais as ordens de produção/ compras e subtraídas das ordens de venda programada.
Tabela 01 - Alocação Dinâmica e Quantidade ATP
Fonte: EXCENT Consultoria
Conforme a Tabela 01, a inserção da ordem de venda no dia 1 compromete 30 unidades em estoque, reduzindo a quantidade ATP de 50 para 20 unidades no dia 1. Apesar da ordem de venda do dia 2 ter data de entrega anterior a do dia 1, esta segunda teve prioritariamente sua quantidade necessária alocada no estoque, pois foi previamente inserida no sistema (ZAGO; MESQUITA, 2010). Neste caso é possível perceber a ação da alocação dinâmica com base na data de entrada do pedido, mas é importante destacar que os sistemas de informação que fazem o cálculo da quantidade ATP também permitem que o estoque seja realocado manualmente de uma ordem para outra.
Poderíamos imaginar uma situação na qual ao se verificar a disponibilidade de estoques, observa-se uma situação de insuficiência para a data solicitada. Neste caso, o atendimento do pedido na data solicitada não seria possível, havendo o processamento de backorder (pedido em atraso) para realização posterior das ordens de venda e ordens de transporte de estoque; seguindo a política de atendimento ao clientes vigente e as diretrizes da estratégia de negócio. O processamento de backorder resulta na repriorização dos requisitos e na geração de confirmações e pode ser programado para ser executado automaticamente e periodicamente.
Como principais etapas do processo de backorder executas pelo processamento básico encontrado em sistemas que realizam o cálculo das quantidades disponíveis para promessa, tem-se:
Executar uma verificação de disponibilidade do produto no ato da criação do pedido;
Configurar e agendar processamento de backorder;
Monitorar os resultados da execução do atendimento de backorder.
Para concluir esta seção seguimos para a apresentação dos cálculos do Cronograma Mestre (Master Schedule), sendo eles realizados segundo estratégia de resposta à demanda denominada Make-to-Stock (MTS, Fazer para Estoque), neste caso, a principal informação é quanto do estoque está disponível para venda e quando haverá novas entradas de produtos em estoque. Na estratégia MTS, a produção é planejada a partir de previsões de demanda, ou seja, a elaboração do Plano Mestre de Produção é feita com base em previsões de demanda, pedidos firmes e níveis de estoques, determinando a necessidade de reposição dos estoques para atender a demanda futura de um determinado período.
Conforme pode ser observado nas tabelas 02 e 03 a quantidade ATP no primeiro período considerado é um balanço do estoque não comprometido, ou seja, o estoque físico menos os pedidos de vendas agendados anteriormente no PMP. A ATP é calculada para o primeiro período de um calendário mestre e, depois disso, para cada período que tenha um MPS. A ATP entre esses períodos será a mesma da última ATP e por isso não precisa ser calculada. O primeiro período será retirado do inventário disponível, portanto, existem dois cálculos ATP ligeiramente diferentes:
ATP (primeiro período) = Estoque disponível inicial - Soma dos Pedidos de Vendas anteriores
ATP (demais períodos) = Recebimento programado no PMP - Soma dos Pedidos de Vendas anteriores ao próximo recebimento
Em qualquer período que contenha recebimentos programados, a ATP corresponde a quantidade do PMP menos a soma das quantidades pedidas pelos clientes neste mesmo período e dos períodos seguintes antes do próximo recebimento programado .
A tabela 02 apresenta um exemplo de um trecho de um calendário mestre com 6 períodos de planejamento, seguindo estratégia Make-to-Stock para resposta à demanda, no qual existe uma quantidade inicial disponível de 70 unidades e o lote é de 100 unidades.
Tabela 02 - Exemplo de Cálculo Incompleto da ATP no Calendário Mestre
Fonte: EXCENT Consultoria
A seguir são apresentados os cálculos das quantidades ATP para cada um dos 6 períodos:
Período 1: 70 unidades de estoque inicial - 48 unidade vendidas = 22 unidades
Período 2: 100 unidades PMP - 66 unidades vendidas = 34 unidades
Período 3: 100 unidades PMP - (57 + 62 unidades vendidas) = - 19 unidades
Período 4: - 19
Período 5: 100 unidades PMP - (30 + 0 unidades vendidas) = 70 unidades
Período 6: 70
Observe que este tipo de ATP pressupõe que a promessa de períodos anteriores será consumida por ordens que ainda não chegaram e, portanto, não trata a ATP de períodos anteriores como um saldo disponível. A Tabela 02 apresenta um ATP negativo no período 3, significando que outra regra precisa ser adicionada.
Na Tabela 02 é possível observar que as ordens de vendas (57 + 62) excedem a quantidade programada pelo PMP; neste caso, o ATP do período anterior deve ser reduzido do valor que o próximo ATP ficaria negativo, e então adicione esta mesma quantia no campo ATP que ficaria negativo. No exemplo, a quantidade faltante no período 3 é de 19 unidades e esta quantidade deve ser subtraída do período 2, estando o resultado expresso na Tabela 03.
Tabela 03 - Exemplo de Cálculo Completo da ATP no Calendário Mestre
Fonte: EXCENT Consultoria
A seguir são apresentados os cálculos das quantidades ATP para cada um dos 6 períodos:
Período 1: 70 unidades de estoque inicial - 48 unidade vendidas = 22 unidades
Período 2: 100 unidades PMP - 66 unidades vendidas - 19 unidades para cobrir período seguinte = 15 unidades
Período 3: 100 unidades PMP - (57 + 62 unidades vendidas) + 19 unidades a ATP do período anterior = 0 unidades
Período 4: 0
Período 5: 100 unidades PMP - (30 + 0 unidades vendidas) = 70 unidades
Período 6: 0
Este ajuste é feito automaticamente pelo programa de gestão de atendimento e mostra no período 2 o que realmente pode ser prometido pela área Comercial. Considerando o exemplo, o estoque inicial é de 70 unidades, mas 48 unidades já estão comprometidas no período 2 como pedidos já colocados, fazendo com que o sistema ajuste a ATP. Esta informação ao longo do tempo permite aos vendedores negociarem novas datas com os clientes ou o parcelamento dos pedidos, evitando com isso a perda da venda.
Estoque de Segurança e ATP
Vamos abordar um ponto que gera certa confusão por parte de alguns profissionais, trata-se de misturar os conceitos de estoque de segurança com a quantidade ATP.
O estoque de segurança refere-se a manter uma certa quantidade de estoque adicional acima do estoque necessário para cobrir incertezas que podem estar relacionadas a uma flutuação no consumo acima do esperado ou a atraso no reabastecimento. Trata-se de uma quantidade de estoque parametrizada para ter pouca flutuação ao longo do tempo e que em tese não deveria ser consumida.
Por outro lado, ao contrário do estoque de segurança, que normalmente é um número definido, a quantidade Disponível para Promessa (ATP) tende a flutuar mais e até mesmo assumir um número negativo. Enquanto um ATP com positivo indique que você tem estoque disponível para entregar no referido período, um valor negativo indica que seu inventário está abaixo da quantidade de estoque de segurança.
Tabela 04 - Estoque de Segurança e ATP
Fonte: EXCENT Consultoria
Como pode ser visto na Tabela 04 acima, o valor disponível para promessa é determinado por uma variedade de fatores, incluindo:
Níveis atuais de estoque: este estoque é o que se tem em mãos para o envio imediato, sendo que as quantidades não comprometidas com pedidos podem ser prometida a um cliente.
Ordens de venda: ordens de venda são documentos que confirmam uma venda, sendo emitidas pelos vendedores para os seus clientes antes de processar o pedido. O inventário em uma ordem de vendas é comprometido com um cliente, mesmo que ainda esteja em seu armazém.
Programação Mestre de Produção: estes documentos são originários do comprador e são usados para encomendar produtos para fábrica ou para seus fornecedores. No caso dos fornecedores externos, trata-se de ordem de compras.
Estoque de segurança: como dito acima, o estoque de segurança é a quantidade de proteção de estoque que você mantém no caso de novo inventário ser atrasado ou uma grande encomenda entrar.
Melhore seu processo de planejamento de operações e de atendimento aos pedidos.
Problemas no Cumprimento do Pedido
Por fim, trazemos breves considerações a respeito de falhas no atendimento das promessas. Sabemos que teoricamente, um sistema ATP reserva disponibilidade de materiais e capacidade contra pedidos de clientes. As ordens prometidas e os recursos alocados serão então compartilhados com as unidades de negócios relevantes para o cumprimento dos pedidos (ou seja, produção e logística de distribuição). Porém, entre o planejamento e a execução há uma lacuna devido às seguintes razões (BABULAK & WANG, 2008):
Qualidade das informações: As informações de disponibilidade mantidas no sistema de informação podem não estar sincronizadas plenamente com a disponibilidade dos recursos físicos. Esta divergência decorre da dificuldade e custo em manter as informações disponíveis nos sistemas de informação atualizadas em tempo real, ocasionando uma potencial imprecisão na análise que resulta em promessas irrealistas podem ser feitas aos clientes.
Simplicidade do modelo de alocação de recursos: Muitas ferramentas ATP "são principalmente motores de pesquisa rápidos para banco de dados disponível, e programam pedidos de clientes sem quaisquer métodos quantitativos sofisticados. A pesquisa sobre os lados quantitativos da ATP ainda está em estágio inicial, e há apenas um número limitado de modelos analíticos desenvolvidos para o suporte ao ATP" (LEE, 2006).
Dinâmica da fabricação: Os sistemas organizacionais são complexos e com uma expressiva quantidade de variáveis internas e externas, que possuem graus diferentes de controle por parte da empresa. O fato é que o comportamento destas variáveis podem ser combinados ao longo do tempo, trazendo um grau de imprevisibilidade para o atendimento do que foi prometido aos clientes.
Considerações Finais
O gerenciamento das datas e quantidades que podem ser prometidas aos clientes é um recurso essencial para a maioria dos negócios e algo que impacta no fechamento do pedido e no nível posterior de satisfação e fidelidade do cliente. Trata-se algo que tem reflexos nos diversos setores das organizações, não se restringido à esfera Comercial.
Apesar de uma aparente simplicidade, existe por trás a necessidade confiáveis e robustos algoritmos, métodos analíticos e processos de planejamento e produção, sem os quais o cumprimento do que foi prometido será algo custoso, complicado e até caótico.
O que se precisa ter em mente é que a disponibilidade dos recursos envolvidos não é determinista, mas estocástica por natureza, portanto, sempre acarretará um grau de erro às promessas de atendimento feitas aos clientes. Com sucessivos esforços de aumento de eficiência e redução dos custos com capital investido as empresas têm cortado capacidades extras e estoques que permitiam amortecer as variações.
Na prática, cabe aos gestores de operações encontrarem maneiras para minimizar o efeito de variabilidade no atendimento, tomando decisões e medidas que visam garantir que a promessa possa ser cumprida. Há pouca ou nenhuma margem de erro. Uma promessa feita a um cliente por um sistema ATP pode desmoronar por causa de uma decisão tática errônea na fase de cumprimento do pedido.
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Bibliografia
Babulak, Eduard & Wang, Ming. (2008). From Available-to-Promise (ATP) to Keep-the-Promise (KTP): An Industrial Case of the Business Intelligent System. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/272089163_From_Available-to-Promise_ATP_to_Keep-the-Promise_KTP_An_Industrial_Case_of_the_Business_Intelligent_System > . Acesso em: 24 de novembro de 2020.
COX, J. F.; BLACKSTONE, J. H., Jr. APICS Dictionary Ninth Edition. Alexandria, VA: APICS, 1998.
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